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terça-feira, junho 29, 2010

OGÃ

Ogã é um cargo de suma importância dentro de uma casa de santo, pois é ele quem toca os atabaques, instrumento de percussão que chamam as divindades para a terra, a fim de que possam se manifestar através de seus eleitos para serem reverenciados por todos que se encontram na festividade. Além de exercerem outras funções imprescindíveis para que um templo possa funcionar.

Dentro da nação Angola, o ogã é uma espécie de Abikú, diferentemente do que acontece em algumas outras nações. Seu cargo é visto pelo sacerdote em jogo de búzios e então ele será iniciado para esse sacerdócio.

Sim, o cargo de ogã é um tipo de sacerdócio, pois ele é que vai também, auxiliar o sumo sacerdote em diversas tarefas, inclusive na iniciação dos filhos de santo. Quando uma pessoa tem esse cargo, sua vida dentro do santo é bem diferente daqueles que se incorporam com Orixá, a começar por sua iniciação.

Um rodante, como chamamos as pessoas que incorporam, passa por um bori, e começa a ser um abiã dentro da casa de santo, onde seus direitos são muito poucos.

Mais tarde quando vai para a iniciação, passa por um período de vinte e um dias recluso. Já o ogã, a partir do momento em que é apontado e suspenso, já começa a ser chamado de pai, e assim sendo tem o respeito de todos daquela casa, bem como de outras casas.

Sua iniciação se dá com sete dias de reclusão e ele já sai com seus direitos, ou seja, “nasce com sete anos” como falamos no Candomblé. Porém, terá que passar por todas as obrigações normais de uma pessoa, até que complete a de vinte e um anos.

Essas obrigações são para que complete o ciclo pendente que seu Orixá, traz de outras encarnações. Uma pessoa é ogã, pois seu Orixá em outros tempos já passou pela fase de iniciação como rodante, assim sendo, precisa que seu filho apenas cumpra essa fase para que ele, como Orixá possa dar como cumprida a sua missão perante Orumilá.

Um ogã tem como função, além de tocar os atabaques, o zelo pelos mesmos, mantendo-os sempre em condições de serem utilizados. Além disso, é ele o responsável por retirar o couro dos animais sacrificados, de cuidar para que a casa esteja dentro das leis que regem o candomblé, cuida para que o zelador esteja sempre a par de tudo que acontece na roça, mantém os filhos de santo dentro das normas exigidas.

Algumas funções são pertinentes somente a alguns cargos de ogã. Por exemplo, a matança, ou seja, o sacrifício dos animais, pertence ao Axogum, cargo de suprema hierarquia, pois ele é o sacerdote da faca, é o homem que tem mão de faca, estando apto a realizar os cortes para qualquer entidade. É ele, inclusive, que tem o direito de jogar búzios para algum filho de santo, quando do impedimento do sumo sacerdote da casa.

O Axogum não pode errar jamais, afinal ele trabalha em conjunto com o Babalorixá ou com a Yalorixá, auxiliando-os em todos os instantes em cada função. Somente pessoa de altíssima confiança do sumo sacerdote ou sacerdotisa, pode exercer essa função, afinal ele tem a capacidade, a autoridade para imolar os animais, alimentando assim o santo de uma pessoa.

Se ele foi apontado e feito para o santo regente da casa, ele é pai do zelador, pai de seu Orixá e tem até mesmo o direito de sacrificar para o santo do zelador, afinal ele é o escolhido para essa função.

Existem ainda outras qualidades de ogã, como:

Alabê que é o que toca os instrumentos denominados de atabaques. É o grande maestro e sob sua batuta os instrumentos ecoam seus sons, avisando aos Orixás que mais uma festa em seu louvor está acontecendo. Graças a esses ogãs, é que temos a maravilha chamada roda de santo, ocasião em que podemos mostrar nosso amor a essas divindades, dançando seus ritmos louvando assim, toda a existência na Terra, que sem a permissão de Olorúm, jamais aconteceria.

O Pejigan, aquele responsável por zelar do altar sagrado da casa. A palavra pejigan assim se traduz: peji = altar, gan = senhor. Em algumas casas, dependendo da nação, ele é o de maior importância, sendo considerado o chefe dos ogãs. É a ele que se reportam quando necessitam de alguma informação sobre determinados assuntos e, o zelador não está ou não pode atender naquele momento, devido a algum impedimento.

Todas as qualidades de ogã são de suma importância para uma casa de santo, e nenhuma pode ser edificada sem a presença dos mesmos, afinal, são eles, os pais de todos os rodantes, aqueles eleitos pelos Orixás para serem seus representantes com altas patentes.

Independente do cargo, se um ogã é suspenso e confirmado para o santo do zelador, ele é pai do mesmo e assim devem andar em harmonia, pois o Orixá, dono da casa, os escolheu para zelar por seu templo. Nesse caso ele é iniciado pelo sacerdote que iniciou aquele zelador.

Em qualquer casa aonde chegar, um ogã deve ser respeitado, pois não pediu para nascer assim, foi escolhido pelos “deuses” para aquela função.

A palavra ogã, deriva da palavra Jêje, que significa chefe, dirigente. Um sacerdote que permanece lúcido durante todas as obrigações não importando qual seja

O fato de o ogã não se incorporar, não significa que ele não tenha intuições ou mesmo que não sinta a presença do santo. Ao contrário: os ogãs possuem alta sensibilidade intuitiva, são capazes de auxiliar o sumo sacerdote até mesmo quando esse enfrenta uma dificuldade, por exemplo, de interpretar determinado assunto no jogo de búzios, são grande sensitivos e sentem a presença de seus Orixás, podendo até mesmo sentir um arrepio ou algo parecido.

Os cargos de ogã são exclusivamente masculinos e jamais uma mulher poderá exercer a função do mesmo. Inclusive o ato de tocar atabaques, é uma aptidão somente para eles. Pois são eles; preparados para tal finalidade. Não incorporam, e assim podem chamar os Orixás até mesmo das pessoas mais antigas que estiverem presentes naquele momento.

Costumam os ogãs saberem todos os fundamentos dos Orixás, dado a sua falta de incorporação. Foram escolhidos para esse sacerdócio e ai daqueles que censurarem um ogã ou mesmo não o respeitar como pai. Sua importância é tanta, que ao falecer uma pessoa, o axexê, ou seja, a cerimônia fúnebre, jamais pode ser realizada sem ele, afinal além de tocar, os instrumentos sagrados, anunciando que a pessoa não mais pertence ao mundo dos vivos, é ele quem preside o ato de despachar os pertences da pessoa.

Quando um Orixá escolhe uma pessoa como seu ogã ou mesmo, como ogã da casa, está entregando a ele, mais que um cargo. O Orixá na verdade o consagra como um sacerdote, uma pessoa que deverá manter sua casa aberta, e ainda, zelar para que todas as obrigações sejam feitas dentro das normalidades.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.